M. P. N. Carvalho
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Patologia, Laboratório de Patologia Comparada, São Paulo, SP
S. S. Sant’anna
Instituto Butantan, Laboratório de Herpetologia, São Paulo, SP
K. F. Grego
Instituto Butantan, Laboratório de Herpetologia, São Paulo, SP
I. C. V. P. Gogone
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Patologia, Laboratório de Patologia Comparada, São Paulo, SP
A. C. B. C. Fonseca-Pinto
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Cirurgia, São Paulo, SP
C. A. B. Lorigados
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Cirurgia, São Paulo, SP
J. L. Catão-Dias
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Patologia, Laboratório de Patologia Comparada, São Paulo, SP
Resumo
As malformações congênitas ou teratogenias são processos patológicos definidos como defeitos estruturais que se originam durante a vida embrionária. Sua ocorrência tem sido relatada em todas as classes de vertebrados e geralmente são incompatíveis com um período de vida prolongado. Uma ampla variedade de malformações é descrita em répteis, principalmente nas espécies que compreendem a ordem Squamata. Acredita-se que as malformações nestes animais ocorram devido a causas genéticas e/ou ambientais, incluindo a baixa variabilidade gênica de algumas populações, as alterações de temperatura e umidade ambientais, e a poluição do meio-ambiente. A caracterização dos processos patológicos envolvidos nestas anomalias é de fundamental importância para a compreensão dos fatores que interferem com a conservação dos vertebrados em geral e, no que remete ao presente trabalho, das serpentes em específico. O presente trabalho caracterizou as alterações macroscópicas e histopatológicas observadas em 102 serpentes nascidas de mães de vida livre e acometidas por teratogenias, compreendendo as espécies Bothrops jararaca e Crotalus durissus. As características macroscópicas das lesões foram avaliadas por exames morfométricos, radiográficos, microtomográficos e necroscópicos. Alterações histopatológicas foram identificadas por análise óptica de luz em materiais submetidos a métodos citoquímicos rotineiros e especiais. As serpentes da espécie B. jararaca apresentaram lesões axiais mais severas que as da espécie C. durissus. Nas análises intraespecíficas, fêmeas de C. durissus apresentaram lesões axiais mais severas que os machos. Em relação à distribuição destas lesões, os indivíduos da espécie C. durissus apresentaram o terço final da coluna como a região mais acometida pelas malformações axiais. A caracterização microtomográfica de teratogenias específicas (anoftalmia, bicefalia, buftalmia, cauda enrodilhada, ciclopia, cifoescoliose, hidrocefalia, lordose, malformação cefálica e prognatismo), permitiu a análise e a documentação das alterações morfológicas originais para serpentes tais como a agenesia dos ossos frontal, parietal e supraoccipital em B. jararaca portadora de malformação cefálica. A relação entre as alterações histopatológicas e as malformações revelou a existência de correlação entre a incidência de doenças renais císticas em serpentes acometidas por braquignatia, quadros inflamatórios oculares em serpentes com buftalmia e a desorganização das fibras musculares periaxiais e fusão de corpos vertebrais em serpentes portadoras de lordose. O levantamento efetuado no presente trabalho constitui uma base de informações úteis para estudos futuros no campo da patologia, teratologia, embriologia e ecotoxicologia de serpentes.