N. P. Azevedo
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, São Paulo, SP
M. B. Guimarães
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, São Paulo, SP
A. J. P. Ferreira
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, São Paulo, SP
Resumo
O impacto de patógenos exóticos nas espécies nativas é um problema reconhecido; dentre as diversas doenças preocupantes em aves de cativeiro, a circovirose e a poliomavirose estão entre as mais importantes. Por serem doenças virais persistentes, com elevada mortalidade e morbidade, são extremamente perigosas tanto para psitacídeos de cativeiro como para os de vida livre. Estudos sobre a ocorrência destes agentes em aves de cativeiro e vida livre foram realizados em várias partes do mundo, entretanto, pouco se sabe sobre estes vírus na América do Sul. O circovírus de psitacídeo é o causador da doença do bico e das penas de psitacídeos (BFV), caracterizado pela distrofia simétrica das penas e pela imunossupressão. O poliomavírus (APV) causa uma doença semelhante à BFD, com alteração em penas, entretanto, outros sinais clínicos como a hemorragia subcutânea são comumente encontrados nesta patologia. Os dois patógenos infectar simultaneamente um mesmo hospedeiro. Apesar de afetarem psitacídeos, poucos estudos sobre estes agentes foram realizados no Brasil. O presente trabalho empregou a técnica de PCR, para detectar circovírus e poliomavírus em amostras biológicas de psitacídeos de cativeiro no Brasil. Foram examinados 120 animais, pertencentes a 23 espécies distintas, com sintomatologia compatível com APV e/ou BFDV. Foram encontradas 57 (47,5%) aves positivas, sendo que em 21 (17,5%) foi detectado o APV e em 41 (34,17%) o BFDV, distribuídos em 18 espécies de psitacídeos. Entre os animais positivos, cinco (8,62%) apresentaram infecção concomitante para os dois virus. Os sinais clínicos observados nos animais positivos para circovírus foram apteria (n=19), automutilação (n=2), regurgitação (n=1), sinais neurológicos (n=11), apatia/anorexia (n=15) e óbito súbito (n=2). Nas aves positivas para poliomavírus, quatro apresentavam apteria, três automutilação, duas regurgitação, um sinal neurológico, vinte apatia/anorexia e um óbito súbito sem ocorrência de sinais clínicos. Os animais com infecção concomitante por circovírus e poliomavírus apresentavam: automutilação (n=2), apteria (n=3), apatia/anorexia severa (n=2) e sinais neurológicos (n=1). A detecção de APV e BFDV caracteriza o registro da ocorrência de ambos os vírus em psitacídeos de cativeiro no Brasil, tanto em espécies exóticas como em espécies nativas. Os sinais clínicos mais observados nas aves positivas para APV foram anorexia e/ou apatia, demonstrando que as manifestações clínicas da doença são inespecíficas e está é provavelmente a razão deste vírus ainda não ter sido estudado no Brasil. Também deve ser considerada a dificuldade para ser firmado o diagnóstico da doença quando não há outro agente associado. A presença de anemia em uma ave da espécie Amazona aestiva é um possível sinal clínico a ser considerado para a infecção por APV.