Células-tronco de membrana amniótica de cão como terapia alternativa para o tratamento de ceratoconjuntivite seca em cães

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S. D. Ramos
R. M. A. Cruz
M. A. Miglino
P. C. B. Beltrão-Braga
G. C. Pignatari

Resumo

Introdução: A Ceratoconjuntivite Seca (KCS – Keratoconjunctivitis Sicca) é uma condição multifatorial que geralmente resulta de alterações quantitativas do componente aquoso do filme lacrimal, podendo ainda, decorrer de deficiência dos componentes lipídicos e mucoso, normalmente atribuída a uma desordem imunomediada. O diagnóstico da KCS é baseado nos sinais clínicos tais como: secreção mucopurulenta, hiperemia conjuntival, blefaroespasmo, fotofobia, incômodo, dor, vascularização, pigmentação e opacidade corneana. Para tanto, dois testes oftalmológicos simples podem ser realizados: o teste de Schirmer e o Butt. O tratamento convencional preconizado hoje são aplicações diárias de pomada ou, então de colírio oftálmicos à base de Ciclosporina 0,2% ou Tacrolimus 0,03%. Esses tratamentos são custosos, não curativos e exigem muito a colaboração do proprietário. Nos últimos anos a terapia celular com células-tronco trouxe uma nova esperança para o cenário da medicina veterinária quanto ao tratamento de doenças que ainda não possuem um tratamento efetivo. A obtenção de células-tronco de anexos embrionários, nos quais os tecidos são comumente descartados no momento do nascimento ou em campanhas de castração, está se tornando muito interessante. Já foi descrito que as células-tronco obtidas da membrana amniótica humana possuem propriedades regenerativas e imunomoduladoras observadas em células-tronco mesenquimais obtidas de outras fontes. O isolamento e a caracterização de células-tronco de membrana amniótica de cães em diferentes períodos gestacionais já foram obtidos com sucesso. Além da caracterização, estas células foram testadas quanto sua capacidade tumorigênica, quando da sua injeção de aproximadamente um milhão destas células-tronco pela via subcutânea na região cervical de camundongos imunossuprimidos e não foi constatada a formação tumoral, após 60 dias da injeção. O presente trabalho foi delineado para avaliar a eficiência do emprego de células-tronco da membrana amniótica para o tratamento da KCS em cães. Foram empregados os parâmetros clínicos rotineiros em oftalmologia para os sinais clínicos bem como, os testes oftálmicos, de Schirmer e Butt. Além disso, o potencial imunomodulador das células foi investigado com a avaliação citológica de um raspado antes e após o tratamento com as células, tendo em vista o controle da evolução do processo inflamatório.

Material e métodos: Dois animais de espécie canina, sexo feminino da raça Golden Retriever provenientes do canil da Faculdade de Medicina Veterinária com idade média de sete anos e em grau crônico de KCS foram selecionados. Após a seleção, esses animais foram submetidos ao tratamento com células-tronco de membrana amniótica após aprovação pelo comitê de ética CEUA/Vet nº 3122/2013. As células-tronco de membrana amniótica foram injetadas em ambas as glândulas lacrimais da terceira pálpebra, duas vezes com intervalo de 30 dias cada. Na primeira injeção foram utilizadas 0,5x106 células em cada glândula e na segunda 1x106. Após o tratamento, os animais foram avaliados semanalmente por exame oftalmológico e testes oftálmicos.

Resultados: Antes da injeção celular, os dois animais incluídos no estudo foram submetidos a um exame oftalmológico que novamente confirmou o padrão crônico da KCS (Tabela 1). Mudanças significativas não foram observadas nos parâmetros oftalmológicos após sete dias de tratamento. Entretanto, o aspecto das glândulas lacrimais destes animais se apresentaram mais próximos da normalidade após sete dias do tratamento (tabela 2). Conforme mostra a tabela 3, após 14 dias de tratamento com as célulastronco, os dois animais apresentaram um aumento no teste de Schirmer, sendo este bem mais significativo no animal 1. Além disso, a secreção mucopurulenta mostrou-se reduzida nos olhos do animal 2. Após 21 dias da implantação, a quantidade da secreção continuava a mesma, porém houve uma redução em torno de 50% no teste lacrimal de Schirmer. Nenhuma mudança no aspecto das glândulas lacrimais da terceira pálpebra essa fase foi distinta do observado aos após sete dias de tratamento. O exame oftalmológico 30 dias após implantação demonstrou que o Teste de Schirmer apresentou valores iguais ao do início do estudo e as glândulas lacrimais da terceira pálpebra voltaram também ao seu aspecto inicial, ou seja, o que eram antes da implantação. No entanto, notou-se nos dois animais a pigmentação corneana encontrava-se menos homogênea (Tabela 5). Nesta mesma ocasião, 30 dias após injeção foi realizada nova aplicação com cerca de 1.000.000 de células-tronco em cada glândula lacrimal da terceira pálpebra. Após sete dias dessa nova injeção houve uma redução no teste de Schirmer do cão1, a menos afetada foi observada. O teste de Schirmer também se apresentou reduzido, porém notou-se que a secreção mucopurulenta também foi reduzida significativamente não voltando ao estágio inicial, principalmente no cão2, a mais afetada.

Conclusão: Após a injeção das células-tronco de membrana amniótica houvemelhora no teste de Schirmer após quinze dias da inoculação, porém ao longo do período de tratamento não foi observada melhora clínica significante. Entretanto, o aspecto da glândula foi diferenciado, e a secreção mucopurulenta apresentou redução na sua quantidade desde a primeira semana de tratamento. Diante destes resultados pode-se concluir que o estágio crônico o qual os animais se encontravam pode ser um fator limitante tornando a KCS irreversível nesses casos. Dessa forma precisa ser avaliado, o tratamento de animais que estejam em estágios menos avançados da doença.

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Como Citar
RAMOS, S. D.; CRUZ, R. M. A.; MIGLINO, M. A.; BELTRÃO-BRAGA, P. C. B.; PIGNATARI, G. C. Células-tronco de membrana amniótica de cão como terapia alternativa para o tratamento de ceratoconjuntivite seca em cães. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 13, n. 1, p. 87-88, 28 abr. 2015.
Seção
SEMANA CIENTÍFICA PROF. DR. BENJAMIN EURICO MALUCELLI