A exposição de ratos à fumaça do crack em um novo dispositivo de exposição pulmonar resulta em alterações comportamentais

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F. Ponce
T. B. Kirsten
P. F. Mendes
I. M. Hueza

Resumo

Introdução: A droga de rua comercializada como crack, é constituída principalmente por cocaína (alcaloide tropânico com notável ação neuroestimulante) na sua forma de base livre, e atualmente vem se destacando como um problema social e de saúde pública, uma vez que a dependência química por esta forma de cocaína se dá com maior facilidade devido a seu alto potencial de abuso e baixo custo [1]. Apesar de existirem diversos estudos em modelos animais com outras formas de cocaína, raros são os relatos científicos que investigaram o efeito da fumaça do crack em roedores, devido à dificuldade de ser realizada a exposição à droga pela via pulmonar. Assim, o presente foi delineado para avaliar as possíveis alterações comportamentais em campo aberto e em labirinto em T de ratos Wistar machos expostos à fumaça do crack, duas vezes ao dia, durante 28 dias, utilizando para tal um modelo de exposição pulmonar ao crack. Foram avaliados parâmetros motores, exploratórios, de ansiedade e cognitivos nos ratos.

Métodos: Antes da realização dos estudos biológicos, foi necessária a determinação do nível de cocaína presente nas amostras de crack cedidas por órgão oficial de segurança pública e para tal, foi empregada a técnica de cromatografia líquida acoplada a um detector de arranjo de diodos (HPLC-DAD). Em um estudo prévio realizado foi determinado que a queima de 250mg de crack com exposição por dez minutos, conferiu aos animais os mesmos níveis séricos de cocaína que os relatados em humanos [2]. Assim, ratos Wistar adultos foram expostos por dez minutos à fumaça resultante da queima de 250 mg de crack por 28 dias, duas vezes ao dia. Foi avaliada a atividade geral em campo aberto com análises de parâmetros locomotores, exploratórios, de ansiedade e emocionais. Os animais também foram avaliados no labirinto em T para a averiguação de uma possível alteração cognitiva com a verificação da alternação espontânea. Todas as análises comportamentais foram efetuadas em três momentos diferentes da exposição: início (1º ao 5º dia), meio (10º ao 14º dia) e final (24º ao 28º dia) da exposição, sempre imediatamente após o término da exposição à fumaça. Além do grupo experimental exposto a fumaça da droga, e do grupo controle exposto à fumaça de cinzas de cigarro, um terceiro grupo foi avaliado, recebendo a mesma quantidade alimentar média ingerida pelos animais experimentais, chamado de pair-fed, devido às conhecidas propriedades anorexígenas da cocaína [3].

Resultados: Os resultados da análise comportamental em campo aberto (demonstrados nas tabelas 1, 2 e 3) revelaram que tanto nas avaliações no início, meio e final das exposições o grupo experimental apresentou aumento da distância percorrida e da velocidade média, comparados aos dados dos grupos controle e pair-fed, ocorrendo, portanto hiperlocomoção. Nesses animais experimentais houve diminuição do tempo de permanência na zona periférica e maior permanência na zona central apenas nas avaliações no meio e no final das exposições, comparadas aos dados dos grupos controle e pair-fed, o que revela uma aparente diminuição da ansiedade. Também apenas nas avaliações no meio e ao final das exposições foi verificado uma diminuição do tempo de auto-limpeza dos animais experimentais com relação aos controles. Tanto nas avaliações no início, meio e ao final das exposições não houve qualquer diferença estatística entre os grupos controle e pair-fed. Os resultados da análise comportamental em labirinto T não demonstraram qualquer alteração significante entre os grupos, revelando aparente preservação cognitiva. Os dados relativos às análises comportamentais em campo aberto foram analisados por ANOVA de uma via seguido do teste de Tukey, os dados obtidos através da análise comportamental em labirinto em T foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis e os resultados foram considerados significantes para p<0,05.

Conclusão: O presente estudo revelou que a exposição de roedores à fumaça do crack em modelo experimental determinou uma concentração sérica de cocaína semelhante à encontrada em usuários de tal droga. O modelo de exposição induziu um claro aumento na atividade motora dos indivíduos desde as primeiras exposições, aparentemente sem alterações cognitivas, efeito esse que persistiu ao longo dos dias até o término das avaliações. Além disso, a droga parece ter reduzido a emocionalidade e estresse dos animais pelas avaliações dos parâmetros de ansiedade e de auto-limpeza. Porém, essa resposta pode ter sido simplesmente em detrimento do aumento motor dos indivíduos. Outro dado interessante foi que a droga induziu um aparente efeito cumulativo, uma vez que as alterações foram mais marcantes do meio para o final das exposições. É importante ser ressaltado que as variações na ingesta alimentar nos animais experimentais não foram responsáveis pelas alterações comportamentais, mas sim a droga, uma vez que os grupos controle e pairfed não apresentaram quaisquer diferenças estatisticamente significantes.

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Como Citar
PonceF.; KirstenT. B.; MendesP. F.; HuezaI. M. A exposição de ratos à fumaça do crack em um novo dispositivo de exposição pulmonar resulta em alterações comportamentais. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 13, n. 1, p. 90-92, 28 abr. 2015.
Seção
SEMANA CIENTÍFICA PROF. DR. BENJAMIN EURICO MALUCELLI