Hiperplasia Gengival e Gengivectomia: Relato de Caso

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P. A. Villela
E. Ishida-Varela
M. A. Leon-Roman

Resumo

A hiperplasia gengival é definida como o aumento não inflamatório da gengiva, que pode ser produzido por alguns fatores, que induzem a inflamação local e a replicação celular no tecido. As pseudobolsas formadas escondem debris, a placa bacteriana, e podem predispor ao desenvolvimento de doença periodontal. É mais observada em cães do que em gatos, e entre as raças predispostas cita-se Collie, Dálmata, Pinscher e Boxer. O termo equivale a um diagnóstico histológico e, por esse motivo, deve ser realizado o diagnóstico diferencial entre aumentos de volume gengivais com o emprego de biópsias do tecido acometido. A inflamação aguda ou crônica, associada à doença periodontal, geralmente causa o aumento gengival focal ou generalizado. Qualquer massa oral benigna ou maligna pode ser diferencial de hiperplasia gengival, sendo indispensável o exame histopatológico. Tumores ósseos e cistos dentígeros também podem ter aparência de hiperplasia gengival pela expansão do tecido gengival adjacente. Condição semelhante ocorre, comumente, em gatos, pela expansão do osso alveolar secundário à doença periodontal ou à reabsorção de raiz por lesão reabsortiva dentária. A hiperplasia também não deve ser confundida com lesão gengival proliferativa associada ao complexo estomatite-gengivite linfoplasmocítico ou à reabsorção dentária nos felinos. Foram relatados como possíveis causas em cães e gatos a predisposição genética, o uso de alguns medicamentos e a hiperplasia gengival idiopática. Quando induzida por medicamentos, associa-se ao influxo alterado de cálcio em tecido gengival, com mecanismo ainda indeterminado. Três categorias de medicamentos podem agir como antagonistas de cálcio no processo de hiperplasia gengival: imunossupressores (principalmente, a ciclosporina); bloqueadores de canal de cálcio (utilizados em cães cardiopatas); anticonvulsivantes (em cães e gatos). Ao exame físico, pode ser observado o aumento em gengiva de forma solitária ou múltipla, também podendo ocorrer de forma generalizada. O processo inflamatório local pode ocorrer secundariamente à periodontite. Quando há envolvimento do tecido periodontal, o sangramento local pode estar presente. O tecido hiperplásico tende a ser firme à palpação. Nos casos com proliferação excessiva, também pode ser observada a mobilidade tecidual. O diagnóstico definitivo é efetuado apenas por biópsia e análise histopatológica. O tratamento envolve a remodelação tecidual com relação à anatomia normal. A correção cirúrgica promove a remoção definitiva da pseudobolsa e reestabelece o contorno normal da gengiva. A profundidade da bolsa e as demarcações para posterior excisão são efetuadas com uma sonda periodontal e agulha, promovendo pontos sangrantes na gengiva como guia de excisão. A sonda periodontal é inserida para mensurar a profundidade da pseudobolsa formada e, em seguida, é posicionada no epitélio gengival vestibular adjacente para demarcação com a agulha. A marcação ocorre preservando-se dois milímetros em direção à raíz, entre o epitélio juncional e o bordo gengival, devido à possível retração cicatricial. A incisão deve ser realizada com uma angulação de 45°. A remoção em bloco do tecido hiperplasiado pode ser efetuada com um bisturi. A gengivectomia com a utilização da broca tronco-cônica de alta rotação promove o remodelamento com contorno preciso. O bisturi elétrico e laser também podem ser usados para a remoção em bloco. Após a remoção em massa, a broca com ponta diamantada pode ser usada para promover uma plastia precisa e próxima do contorno real. A analgesia e a anestesia geral são necessárias devido à intensa manipulação oral no transoperatório. Bloqueios neurais podem ser necessários para o conforto no pós-operatório imediato e para a segurança anestésica. A analgesia no pós-operatório deve ser realizada durante o período de quatro a seis dias. O uso de antibioticoterapia previamente ao tratamento cirúrgico deve ser considerado apenas em situações peculiares: pacientes idosos, doenças imunossupressoras concomitantes, hepatopatas, cardiopatas e nefropatas ou em quadros de doença periodontal (moderada a severa) associada. Complicações pós-operatórias são raras quando utilizados bisturi ou broca, diferentemente de quando se usa bisturi elétrico ou laser, que podem gerar danos térmicos ao tecido no trans e no pós-operatório. O bisturi elétrico deve ser mantido em contato direto com o tecido por, no máximo, dois segundos, e seguido de intensa irrigação local para evitar o aumento de temperatura, que também pode ocorrer com o uso da broca. Quando os instrumentos são utilizados de forma imprópria, pode ocorrer necrose em tecido gengival ou ósseo adjacente. Recidivas são possíveis nos casos em que a causa inicial não foi descoberta, como é, por exemplo, o caso de cães com hiperplasia idiopática relacionada à raça. Em geral, ocorrem meses ou anos após a intervenção cirúrgica, sendo necessário o acompanhamento clínico para a verificação da necessidade de uma nova gengivectomia. Avaliação anual ou a cada dois anos podem ser necessárias. Se possível, o uso de medicações que predispõem ao quadro deverá ser descontinuado e, também, deve ser considerada a suplementação com folato (quelante de cálcio) para promover a redução da hiperplasia gengival induzida por medicação. O prognóstico para quadros de hiperplasia gengival é excelente.

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Como Citar
VILLELA, P. A.; ISHIDA-VARELA, E.; LEON-ROMAN, M. A. Hiperplasia Gengival e Gengivectomia: Relato de Caso. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 13, n. 2, p. 61-62, 10 nov. 2015.
Seção
RESUMOS CONPAVET