Resumo
A saúde animal e humana sempre estiveram interligadas. As famílias da sociedade contemporânea são consideradas multi-espécies e a integração desses indivíduos com sua comunidade e o meio em que vivem tornam a atividade do médico veterinário, profissional com formação sobre doenças e agravos resultantes da interação homem-animal-ambiente, fundamental para conhecer os determinantes de saúde e doenças, criando as bases para referências locais. Com o objetivo de intensificar o contato com comunidades carentes, ampliando as atividades de extensão para Médicos Veterinários Residentes (MVR), alunos e pós graduandos, foi criado na FMVZ-USP o projeto “Saúde única, sonhos coletivos”, tendo sido realizados dois ciclos de ações associados aos Dias da Família no bairro Jardim Boa Vista. Foi realizado um diagnóstico sobre o conhecimento da comunidade a respeito de zoonoses e, na sequência, a abordagem educativa com base nesse diagnóstico, bem como o mutirão clínico e de vacinação. O mutirão foi realizado como parte das atividades dos MVR do Programa de Residência em Área da Saúde do Hospital Veterinário da FMVZ-USP e permitiu o atendimento de 106 animais. Foram atendidas mais fêmeas (54,7%) e maior proporção de cães (79,2%), em relação aos gatos. A idade média foi de 3,8 anos para os cães e 1,5 anos para os gatos, sendo que 22,6% dos cães e 28,6% dos gatos eram castrados. A ampla maioria (90%) era alimentada com ração; 72,6% não tinham acesso à rua sem acompanhamento e 59,4% relatavam infestação por pulgas e/ou carrapatos. Metade dos animais tinha possibilidade de contato com ratos e 52,8% não eram vacinados. Agressividade foi relatada em 28,3% e direcionada a outra espécie animal. Destacou-se o fato de que 17,9% dos proprietários não castrariam seus animais e 33% tinham dúvidas se concordariam ou não com o procedimento. Durante o atendimento, sete fêmeas foram apresentadas com suas ninhadas e uma com suspeita de gestação. A entrevista permitiu a detecção de problemas que precisam ser abordados em projetos educacionais, a exemplo da baixa aceitação da castração, mas também demonstrou uma população disposta a ouvir e aprender mais sobre os cuidados com seus animais. Concluímos que esta forma de abordagem junto à comunidade permite, além da interação com os munícipes, que os MVR tenham um aprendizado dinâmico e visão mais ampla dos problemas que podem ser enfrentados em comunidades carentes, dentro da relação homem-animal-ambiente.