Diabete insípido central congênita em um cão – Relato de caso

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L. B. B. Silva
T. A. Souza
A. J. Dall Olio
C. V. Chalupe

Resumo

Introdução: Diabetes insípido é uma doença rara em cães que pertence ao espectro de doenças poliúricas (PU) (produção de urina > 50mL/kg/dia), e polidpsiacas (PD) (consumo de água > 100mL/kg/dia), que leva a uma alteração no mecanismo de excreção e retenção da água e baixa densidade urinária. A patologia está incluída em um grupo de doenças hereditárias ou adquiridas que podem ser causadas pela secreção ou síntese deficiente do hormônio antidiurético (ADH ou vasopressina, responsável pela manutenção do equilíbrio hídrico, designadamente pela antidiurese) – Diabetes insípido central (DIC) ou pela incapacidade tubular renal em responder a esse hormônio – Diabetes insípido nefrogênico (DIN). A DIC pode ter diferentes etiologias: traumática, vasculares, neoplásicas, infecciosas, inflamatória/ autoimune, induzida por drogas, hidrocefalia, idiopática e congênitas. Já a DIN pode ser ocasionada por defeitos congênitos, reações adversas a drogas e desordens metabólicas. Os achados clínicos das duas formas (DIC e DIN) mais comumente encontrados são: PU e PD intensas; desidratação de grau leve a moderado; sinais neurológicos – particularmente quando associada com tumor hipofisário; perda de peso (deve-se ao grande desejo do animal por água ser maior que seu apetite); mucosas normocoradas e o tempo de preenchimento capilar normal. Os exames complementares devem ser realizados principalmente para exclusão de outras causas de PU/ PD (Síndrome de Cushing, nefropatias primárias, Diabetes Mellitus, doença hepática, hipertireoidismo, piometra e hipoadrenocorticismo). Os estudos diagnósticos iniciais recomendados incluem hemograma completo; painel bioquímico sérico; urinálise (hipostenúria); ultrassom abdominal; teste de supressão com baixa dose de dexametasona. Os testes de privação hídrica e a resposta à aplicação de desmopressina são os procedimentos de escolha para ser firmado diagnóstico à doença pois permitem a diferenciação entre DI e polidipsia psicogênica. A desidratação exclui a polidipsia primária (psicogênica) e a administração de desmopressina diferencia DIC de DIN. O presente trabalho descreve um caso de DIC congênito em um canino de quatro meses, dando ênfase ao emprego do teste de privação hídrica para a confirmação do diagnóstico. Relato de caso: Um cão, macho, da raça maltês, com quatro meses de idade, não castrado foi atendido no Hospital Escola Veterinário da Faculdade Jaguariúna (HEV-FAJ) com queixa principal de intensa ingestão de água e grande volume de urina. Na anamnese foi relatado normorexia, normoquesia, vacinação e vermifugação atualizadas. No exame físico foram observados temperatura retal, frequência cardíaca, tempo de reperfusão capilar, auscultação cardiorrespiratória dentro dos padrões de normalidade, normohidratado e com mucosas normocoradas. A suspeita recaiu para a ocorrência de alguma síndrome de PU/PD, e para ser firmado um diagnóstico conclusivo foram solicitados os exames complementares: Hemograma e perfil Bioquimico (ureia, cretinina, TGP, FA), Glicemia, Densidade urinária e Ultrassom de crânio. No hemograma foi evidenciada uma discreta anemia, o perfil bioquímico apresentou valores dentro da referência, glicemia 88mg/dl (60-120mg/dl), Urinálise com, hipostenúria 1.004 (1.015-1.025) sem presença de outras alterações químicas e de sedimentoscópicas e Ultrassom de Crânio sem evidência de hidrocefalia. O valor da densidade urinária, a queixa e o exame físico levantaram a suspeita de DI. A execução do teste de privação hídrica foi proposta para a confirmação da hipótese aventada. O paciente foi internado para a realização do teste, sem acesso à água e sem fluidoterapia. Foi colhida urina e monitorado o peso da paciente no momento da chegada e a cada hora, até que se constatasse a perda de 5% do peso corporal. A densidade e o volume urinário foram avaliados a cada hora. A densidade específica da urina manteve-se em hipostenúria, no valor de 1.004 até a última colheita. Após a realização do teste de privação hídrica foi efetuada a aplicação de acetato de desmopressina – ADH (três gotas no saco conjuntival), na dose de 4mg, e colhidas amostras de urina com intervalo de uma hora entre as colheitas. Após três horas da administração do ADH, houve aumento da densidade urinária – 1.025 (1.015-1.025). O diagnóstico foi estabelecido como Diabete Insípido Congênita de origem central. Resultados e Discussão: O diabete insípido é caracterizado por poliúria, polidpsia e demanda contínua por água. A DI central (DIC) é causada por uma falha de secreção do hormônio antidiurético (ADH ou vasopressina) sem outros sinais e geralmente é diagnosticada antes de um ano de idade, o que é condizente com relato apresentado. Para um diagnóstico conclusivo da DI é importante uma anamnese minuciosa, exame físico completo, uma vez que a queixa de PU/PD pode levar a diversas suspeitas, e exames complementares são imprescindíveis, em especial o teste de privação hídrica, pois enquanto o acesso à água não for restrito, o estado de hidratação do animal, a cor das mucosas e o tempo de preenchimento capilar permanecem normais. Situação também observada no caso em questão. O teste de privação hídrica, quando cuidadosamente monitorado, confirma a incapacidade de o animal concentrar sua urina mesmo ficando desidratado. O paciente é submetido à privação hídrica até perder 5% do peso corpóreo, que indica o mesmo grau de desidratação. Isso, geralmente, demanda de 6 a 11 horas em um animal com diabete insípido e de 36 a 48 horas em um animal saudável. Durante o teste, a densidade urinária deve ser avaliada a cada hora. Quando, após atingir 5% de desidratação, a concentração urinária apresenta valores superiores a 1.025, o diagnóstico de diabete insípido é descartado e a eventual polidipsia psicogênica persiste como suspeita mais provável. Quando não há concentração urinária, é necessário seguir com o teste para diferenciar DIN de DIC. Nessa fase, o ADH é administrado ao paciente e a densidade urinária continua a ser avaliada de hora em hora. No DIN, não há concentração urinária após o uso do ADH. No DIC, a concentração urinária ocorre geralmente após uma a três horas da administração dele, e tende a se situar na faixa de normalidade. O tratamento deve ser baseado na reposição do ADH ou na manutenção do animal com acesso livre à água. A medicação de escolha para tratamento do DIC é a desmopressina (dDAVP), um análogo sintético da vasopressina, disponível como injeção e gotas nasais, que proporciona uma atividade antidiurética por aproximadamente oito horas. Na maior parte dos cães e gatos com diabetes insípido central, uma a quatro gotas de preparação nasal colocadas no saco conjuntival, duas vezes ao dia, controlarão a PU/PD. Indica-se o uso de uma gota a cada oito horas no saco conjuntival. Conclusão: Conclui-se a importância de incluir a DI no diagnóstico diferencial de doenças que cursam com PU/PD, diferenciando-as no exame físico e com exames complementares, em especial com o emprego do teste de privação hídrica. Para concluir o diagnóstico entre DIC ou DIN é utilizada a desmopressina, e assim será estabelecido o tratamento adequado para o paciente.

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Como Citar
SilvaL. B. B.; SouzaT. A.; Dall OlioA. J.; ChalupeC. V. Diabete insípido central congênita em um cão – Relato de caso. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 14, n. 3, p. 56-56, 21 dez. 2016.
Seção
RESUMOS CONPAVET