Esporotricose, abandono e saúde pública: a importância do manejo e do tratamento de animais da gatil da UFRPE

Conteúdo do artigo principal

L. S. Barbieri
T. Oliveira dos Santos
M. H. B. Tavares
A. L. T. Cunha
R. T. D. Moura

Resumo

A esporotricose é uma doença piogranulomatosa caracterizada por infecção subaguda causada pelo fungo Sporothrix schenckii. Possui caráter saprozoonótico, e as suas principais vias de transmissão são o solo e os vegetais. Os felinos domésticos por possuírem hábitos de escavar a terra para encobrir fezes e arranhar as árvores para afiar garras podem transmitir a infecção para outros animais e humanos por meio de arranhaduras. Por ser contagiosa, ter tratamento longo e pouco conhecido, os tutores abandonam animais acometidos longe de suas residências, contribuindo para disseminação do patógeno. A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) é visada como foco de abandono de animais por ofertar cursos voltados para saúde animal. Assim, o trabalho quantificou os casos de esporotricose felina registrados em felinos abandonados no campus Recife da UFRPE (2006-2016) e destaca a importância do Gatil Institucional no controle da disseminação e no tratamento dessa doença. Em outubro de 2006 foi diagnosticado o primeiro caso de esporotricose em felino abandonado na UFRPE; e entre 2006 e 2016 foram recolhidos 76 felinos com suspeita de esporotricose, os quais foram encaminhados para o Gatil da Universidade, onde passaram por avaliação clínica e tiveram diagnóstico laboratorial positivo para o Sporothrix schenckii. Foram mantidos em grupos de oito animais em boxes (6,00m x 1,50m cada), onde receberam tratamento durante quatro a 12 meses com a administração de Itraconazol (100mg/gato/dia para animais com peso superior a 3kg e 50mg/gato/dia para animais com peso inferior a 3kg), via oral. Práticas de biossegurança – esterilização, limpeza e desinfecção do ambiente e dos utensílios – foram realizadas diariamente; assim como normas de manejo e contenção adequadas, desinfecção da pelagem e corte de unhas dos animais, semanalmente. Foi obtida a cura total da doença em 73% dos animais; 6% dos animais vieram a óbito e 21% permaneceram em tratamento por recidivas ou insucesso. Os animais curados passaram por quarentena e posteriormente foram liberados para feiras de adoção. O Gatil da UFRPE é uma estrutura da universidade voltada para o controle da disseminação de doenças infectocontagiosas no campus universitário que também contribui para o ensino e pesquisa de graduandos e pós-graduandos de Medicina Veterinária no estudo de doenças que afetam gatos domésticos, incluindo as doenças zoonóticas, como é o caso da esporotricose, que tem tido rápida disseminação pelo município e que é de grande importância para a saúde pública. A terapêutica instituída mostrou-se eficiente, curando 73% dos felinos. Atribuiu-se os casos de recidivas à provável presença da forma esporulada do fungo em troncos e matéria orgânica, e ao contato direto dos animais curados com gatos doentes recém-abandonados no campus. Os insucessos no tratamento também foram relacionados à imunodeficiência apresentada por alguns felinos portadores de FIV, FELV e neoplasias. Verificou-se ainda que não existem programas específicos de controle dessa zoonose na região metropolitana do Recife, o que contribui para a sua disseminação. A conclusão obtida foi que o Gatil da UFRPE é uma estrutura importante para o controle da esporotricose no campus Recife e que também contribui de forma multidisciplinar e prática para o aprendizado e para a pesquisa de futuros profissionais que irão trabalhar com saúde coletiva, controle de zoonoses e medicina de abrigo.

Detalhes do artigo

Seção

VII CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Como Citar

Esporotricose, abandono e saúde pública: a importância do manejo e do tratamento de animais da gatil da UFRPE. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, [S. l.], v. 15, n. 1, p. 71–72, 2017. Disponível em: https://revistamvez-crmvsp.com.br/index.php/recmvz/article/view/36802. Acesso em: 5 dez. 2025.