L. M. Chicoski
Universidade Federal do Paraná, Departamento de Medicina Veterinária, Laboratório de Zoonoses e Epidemiologia Molecular, Curitiba, PR
C. Constantino
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Pr
A. W. Biondo
Universidade Federal do Paraná, Departamento de Medicina Veterinária, Curitiba, PR
Resumo
Na sua primeira fase de atividade, de 2013 a 2014, o programa “Cão comunitário” registrou existência de 51 cães com perfil de comunitários nos 21 terminais de ônibus urbanos (TOU) de Curitiba Os animais passaram a ser monitorados com a avaliação das suas condições pelo emprego de um questionário que analisou o suprimento das cinco liberdades (Five freedoms) dos animais, e, simultaneamente, foi realizado um inquérito para avaliar a percepção do mantenedor sobre o bem-estar dos animais e o seu respectivo grau de interação com o animal. Foi constatado que 80% (17/21) dos terminais de ônibus possuíam cães comunitários. No ano de 2016, 47% (24/51) dos cães que iniciaram o projeto ainda se mantinham vinculados e a evasão foi decorrente da adoção ou óbito. Durante o monitoramento dos locais de estudo, houve a instalação de 27 novos cães com perfil de comunitários, porém ainda não haviam sido cadastrados oficialmente no programa. Devido à ausência ou fuga, apenas 36 de 51 animais foram submetidos à avaliação de seus indicadores de bem-estar. Verificou-se que 86% (14/17) dos terminais apresentaram padrão satisfatório de limpeza de comedouros e bebedouros e 88% (15/17), condições adequadas de higiene do ambiente. Apenas um animal (2% ou 1/36) apresentou alteração severa de coloração de mucosas como indicador de sanidade, no entanto em 94% (34/36) foi constatada a presença de ectoparasitas. Todos os terminais visitados possuíam elevado tráfego de automóveis, entretanto, esse risco eminente não se expressou no total de atropelamentos de animas em que houve a necessidade de prestação de socorro: 8% (3/36). Todos os terminais possuíam abrigo fixo para os cães, todavia 47% (8/17) desses abrigos não os protegiam adequadamente de condições climáticas adversas. Quanto à relação com os humanos, o tempo de convivência dos cães comunitários com seus mantenedores variou de dois meses a 12 anos. Cerca de 72% (8/11) dos mantenedores trabalhavam na própria rede pública de transportes, o que proporcionou o estabelecimento de vínculo com o cão e manutenção diária da relação com o animal. Nenhum cão comunitário apresentou receio do contato com o mantenedor, entretanto 30% (11/36) dos cães apresentaram hesitação à aproximação do avaliador. Cerca de 28% (4/14) dos mantenedores não desejavam que os cães fossem adotados por acreditarem que havia alto nível de bem-estar do animal no local e 78% (11/14) acreditavam que a atração dos animais pelo terminal se devia à disposição de alimentos. Conclui-se que embora os animais comunitários estivessem expostos a diversos riscos ambientais, sanitários e nutricionais eles apresentam elevado grau de bem-estar e que havia proximidade do cão com seu mantenedor, o que facilitou a execução do projeto.