J. B. A. Silva
Prefeitura de Praia Grande, Secretaria de Saúde Pública, Praia Grande, SP
M. F. Marques
Prefeitura de Praia Grande, Secretaria de Saúde Pública, Praia Grande, SP
M. F. Gonçalves
Prefeitura de Praia Grande, Secretaria de Saúde Pública, Praia Grande, SP
T. Shigaeff
Prefeitura de Praia Grande, Secretaria de Saúde Pública, Praia Grande, SP
T. M. Ortiz
Prefeitura de Praia Grande, Secretaria de Saúde Pública, Praia Grande, SP
V. M. G. Lopes
Prefeitura de Praia Grande, Secretaria de Saúde Pública, Praia Grande, SP
Resumo
O acúmulo de animais é um distúrbio comportamental multifatorial, um tipo específico de transtorno de acumulação. Tem particularidades relacionadas à autojustificação de supostamente promover o bem e à negação/baixa percepção dos danos reais causados. Caracteriza-se pela aquisição e manutenção compulsiva de animais em quantidade superior a capacidade disponível para lhes oferecer o cuidado adequado, o que gera condições insalubres para os animais e também para as pessoas relacionadas. Os animais em geral são submetidos à má nutrição, superlotação e péssima higiene, podendo ter seu bem-estar e saúde severamente comprometidos. As pessoas próximas, principalmente o acumulador, ficam fortemente expostas a doença/agravos que decorrem da má higiene e da infestação por animais sinantrópicos concomitantes. Há, portanto, um maior risco de ocorrência de infecções por agentes etiológicos de zoonoses, acometendo tanto os animais abrigados como também os seres humanos que com eles convivem, o que representa um sério problema de saúde pública. As medidas de prevenção e controle devem ser multidisciplinares de modo a assistirem a saúde dessas pessoas de forma integral, englobando o ambiente, os animais e outras pessoas afetadas, bem como sua situação física, psicológica e social. Este trabalho relata um caso de assistência a uma acumuladora de animais e compara as suas características com o perfil típico de casos análogos. Foram registradas e descritas as ocorrências, as medidas tomadas, os profissionais envolvidos e os resultados obtidos. Em julho de 2016, a equipe de Saúde Ambiental do município de Praia Grande/SP fez uma vistoria em uma residência no bairro Caiçara devido à uma queixa encaminhada por ouvidoria. Como a moradora não se encontrava no local no momento da visita, foi constatado que o caso se tratava de acúmulo de animais, apresentando uma grande quantidade de cães e muitas sujidades no local. Iniciou-se então o contato com a moradora em questão, com sua empregadora, com a agente comunitária de saúde e a supervisora da Unidade de Saúde da Família para sanar a situação. A moradora era uma mulher de 69 anos, vivia sozinha e trabalhava em São Paulo. Foi efetuado um trabalho intensivo para conscientizá-la e convencê-la da necessidade de redução do número de animais e do aprimoramento e manutenção de melhores condições de higiene do local. No mês de agosto, foi agendada uma data para retirada e castração dos animais, bem como para limpeza do local, executado sob a forma de um mutirão que contou com a participação de agentes da Divisão de Saúde Ambiental, da limpeza urbana e também da Divisão de Proteção à Vida Animal, acompanhados pela assistência social. Foram recolhidos e castrados três cães e seis cadelas, e encaminhados cinco filhotes à adoção. Foram retiradas grandes quantidades de detritos compostos principalmente por fezes, urina, pelos e jornais que cobriam o chão da residência e eram foco de proliferação de pragas e animais sinantrópicos. Foi permitida a permanência de uma cadela mais velha e ligada à moradora para amenizar o trauma da separação com os demais. Após essa primeira ação massiva, houve o comprometimento do acompanhamento mais próximo ao caso. Posteriormente foram realizadas outras ações de limpeza e visitas periódicas. A moradora passou a manter o local sem mais animais. O caso relatado é um exemplo típico de transtorno de acumulação de animais em que a maioria é mulher, idosa, sem base familiar de suporte e com baixa percepção dos danos causados, tendo a sua rotina e saúde seriamente comprometidas pelo transtorno. Os animais não se apresentavam com o estado de saúde debilitado, porém viviam confinados em um espaço restrito e extremamente insalubre, reproduzindo-se sem controle com alta taxa de consanguinidade. Foi constatado que a ação conjunta e articulada de todos os setores envolvidos foi essencial, e a experiência descrita é útil para o tratamento de outros casos semelhantes.