P. C. Santos-Costa
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Laboratório de Morfologia e Patologia Animal, Campos dos Goytacazes, RJ
L. S. Silveira
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Laboratório de Morfologia e Patologia Animal, Campos dos Goytacazes, RJ
L. A. Barbosa
Instituto Consciência Ambiental, Vila Velha, ES
Abstract
Os rins de mamíferos desempenham um importante papel na manutenção da homeostasia, especialmente nos mamíferos marinhos frente às adaptações fisiológicas ao ambiente marinho. O presente trabalho investigou as principais lesões encontradas em amostras renais de pequenos cetáceos encalhados no litoral do Espírito Santo, Brasil. Foram examinadas amostras provenientes de nove indivíduos encontrados encalhados já mortos em praias do litoral do Espírito Santo ou que vieram a óbito durante o processo de reabilitação na Organização Consciência Ambiental – Instituto ORCA. As amostras foram submetidas ao método convencional de preparação de lâminas histológicas. Nove diferentes espécies foram examinadas: o boto-cinza (Sotalia guianensis) foi a mais freqüente, 33,3% (3/9) dos casos. Os principais achados histopatológicos foram relacionados a processos hemodinâmicos e infecciosos como congestão (66,6%) e hemorragia (22.2%) e glomerulonefrite membranosa (33,3%) e nefrite intersticial (11,1%), respectivamente. Cistos simples como os encontrados em uma amostra deste estudo já foram descritos em golfinhos, sem evidência de lesões obstrutivas, e foram considerados anomalias de desenvolvimento. Achados como a mineralização encontrada em 22,2% das amostras são comumente relacionados a distúrbios no metabolismo de cálcio ou à deposição de sais minerais em tecidos submetidos a lesões degenerativas ou inflamatórias. Já a esteatose observada em 11,1% dos casos pode estar relacionada a lesões em outros órgãos, como o fígado, caracterizando uma síndrome passível de injúrias letais, porém, as causas dessa e das outras lesões seriam mais bem entendidas com um estudo completo abrangendo a macroscopia e avaliação de outros tecidos, assim como a história clínica e/ou do encalhe. Entretanto, é muito provável que estas lesões tenham contribuído com a piora do quadro clínico do animal e consequentemente com o seu encalhe na praia. Esses resultados reforçam a importância de uma maior compreensão dos processos patológicos que acometem e predispõem os cetáceos à morte, bem como a necessidade de uma abordagem multidisciplinar dos animais encalhados na busca do conhecimento necessário para direcionar os esforços na conservação das diferentes espécies.