T. L. M. Arcebispo
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte, MG
F. M. P. Andrade
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte, MG
T. M. Oliveira
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte, MG
J. H. Begalli
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte, MG
L. P. Mol
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte, MG
M. X. Silva
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte, MG
Abstract
A Doença de Chagas (DC) é uma antropozoonose de origem silvestre em que a sua forma de transmissão característica é a estabelecida pela espoliação humana por triatomíneos infectados, que se domiciliam em habitações de baixa qualidade nas zonas rurais. Este ciclo foi alvo de campanhas bem-sucedidas de combate à DC pelo Ministério da Saúde, no entanto a transmissão oral da DC causada pela ingestão de alimentos (caldo de cana, açaí e bacaba) com presença de partes de triatomíneos infectados tem se tornado cada vez mais importante. O entendimento dos fatores envolvidos na epidemiologia dessa mudança no perfil da DC é um passo necessário para a elaboração de políticas públicas para o seu combate. Este trabalho avaliou a evolução epidemiológica da DC, identificou as áreas prioritárias para seu combate e as características da sua transmissão no cenário brasileiro. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) armazena as notificações obrigatórias da forma aguda da Doença de Chagas, estes dados foram coletados e interpretados em um estudo descritivo (software Epi Info™ v7.2) e posteriormente usados para a formulação de mapas (software QGIS v2.18) e identificação de clusters espaços temporais (software SatScan v9.4.4). Os resultados obtidos revelaram a existência de uma drástica alteração no ciclo da doença e na distribuição dos casos entre as regiões. Até 2006 o tipo de transmissão predominante foi o vetorial, contudo a partir de 2007 a via oral se tornou a principal forma de transmissão, porém a expressividade deste novo ciclo foi subestimada nos anos anteriores, uma vez que a inclusão da opção “oral” no campo “tipo de transmissão” da ficha de notificação somente se deu em 2007. A análise geográfica identificou dois clusters espaço-temporais: um no Nordeste brasileiro no período de 2003 a 2006, no qual o número de casos superou em 25 vezes o esperado (Risco relativo, 25,16; p< 0,01), e outro na região Norte com um número de casos 3,5 vezes superior ao esperado (Risco relativo, 3,49; p< 0,01). A Doença de Chagas, em sua forma de transmissão clássica, foi combatida com sucesso pelo Serviço de Saúde brasileiro principalmente a partir do ano 2003, todavia o estabelecimento de um outro tipo de ciclo epidemiológico, em outra área e com outras características de transmissão, fez que a doença reemergisse. Por fim, na atualidade, há a necessidade de investimentos em novas estratégias que se mostrem tão bem-sucedidas para o combate da transmissão oral quanto as implementadas para a transmissão vetorial da Doença de Chagas.