S. M. Barrero
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR
J. Hammerschmidt
Prefeitura de Pinhais, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Pinhais, PR
M. L. Izar
Prefeitura de Pinhais, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Pinhais, PR
S. A. Marconcin
Prefeitura de Pinhais, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Pinhais, PR
L. O. Leite
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR
R. C. M. Garcia
Universidade Federal do Paraná, Departamento de Medicina Veterinária, Curitiba, PR
Abstract
Sabe-se que as maiores prevalências de violência contra crianças, mulheres e idosos acontecem nas próprias famílias. Embora tenha sido escassamente estudado, cães e gatos também sofrem maus-tratos no interior dos lares. Apesar disso, poucos esforços são realizados para a identificação dos determinantes socioeconômicos que influenciam essa situação. Este trabalho identificou e analisou os fatores de risco, associados a questões socioeconômicas, para maus-tratos aos animais de companhia no ambiente familiar. Foram utilizados os dados dos registros das vistorias de maus-tratos aos cães e gatos da Seção de Defesa e Proteção Animal (Sedea) do município de Pinhais, estado do Paraná, Brasil, e o Protocolo de Perícia em Bem-estar Animal para identificar as falências em quatro tipos de indicadores do grau de bem-estar animal: nutricional, de saúde, de conforto e comportamental. O grau de bem-estar baixo e muito baixo foram considerados como maus-tratos. Foram coletados o número de cães e gatos nos domicílios, informações sobre sexo, idade, grau de escolaridade dos tutores, presença de dificuldades financeiras e violência doméstica na família. A dependência entre as características da família e os maus-tratos foi estimada por meio do teste Qui-Quadrado ou Exato de Fisher (p<0,10). Foram utilizados procedimentos de regressão logística para o estabelecimento dos fatores de risco para maus-tratos. No total, foram avaliadas 118 vistorias de maus-tratos em cães e gatos com tutor responsável e 90 (75,5%) casos foram categorizados como maus-tratos. Quanto ao tipo de maus-tratos, a negligência representou 97,8% (88/90); agressão intencional 6,7% (6/90) e abandono em 1,7% (2/118) dos casos verificados. O número de animais no domicílio (p=0,09), as condições financeiras (p=0,041), a baixa escolaridade do responsável (p=0,043), definido para fins da pesquisa como até ensino fundamental incompleto, tiveram relação com a ocorrência de maus-tratos em cães e gatos. A violência doméstica esteve associada ao abuso físico dos cães (p=0,002). Desses dados, a única variável identificada como fator de risco para maus-tratos foi a de baixo grau de escolaridade do proprietário, que aumentou em três vezes a chance de os animais estarem nestas condições. A ocorrência de maus-tratos está associada a dificuldades socioeconômicas. Neste sentido, questões ligadas às condições sociais e financeiras das famílias são aspectos relevantes a serem considerados na identificação de maus-tratos aos animais. Em conjunto com os aspectos socioeconômicos, outros fatores, como o vínculo humano-animal, devem ser avaliados em vistorias de maus-tratos aos cães e gatos. Entender os determinantes que influenciam a ocorrência de maus-tratos aos animais é fundamental para sua prevenção.