Efeito in vitro de bioterápico sobre larvas de Cochliomyia hominivorax (Diptera: Calliphoridae)
##plugins.themes.bootstrap3.article.main##
Resumo
Miíases são lesões ocasionadas pelo parasitismo da forma larval da mosca Cochliomyia hominivorax nos tecidos vivos de animais de sangue quente. Essas afecções são demasiadamente cruentas e geram severos prejuízos ao bem-estar animal e aos criadores, de forma que seu tratamento é realizado imediatamente após o diagnóstico. O tratamento é quase sempre realizado com o emprego de produtos à base de compostos sintéticos diretamente sobre as larvas, ou uso de endectocidas(CARVALHO, 2010). O uso em demasia desses produtos está provocando o surgimento de dípteros resistentes à sua ação, a deterioração dos agroecossistemas, além de acumular resíduos tóxicos no ambiente e nos produtos de origem animal (VERÍSSIMO, 2003). A indisponibilidade de alternativas à utilização das moléculas sintéticas no enfrentamento desse problema é um gargalo dentro dos sistemas de produção animal sustentáveis (SOTOMAIOR, 2009). Sob este contexto, a Instrução Normativa MAPA nº 46, de 6 de outubro de 2011, recomenda a utilização de medicamentos homeopáticos e bioterápicos em animais de produção. A pesquisa moderna em homeopatia tende a direcionar a atenção aos ensaios in vitro (PASSETTI et al., 2014). Testes in vitro envolvendo preparados homeopáticos e bioterápicos podem oferecer informações prévias sobre a ação desses preparados nas células vivas dos organismos, sem as complicações inerentes dos testes clínicos (WAISSE, 2017). Assim, este trabalho avaliou o efeito in vitro de um bioterápico, preparado nas potências 8cH e 12cH, com larvas de C. hominivorax sadias, em terceiro estágio, oriundas de uma colônia estabelecida em laboratório. A colônia de C. hominivorax foi estabelecida no Laboratório de Parasitologia Animal do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural, localizado no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. O bioterápico utilizado foi preparado a partir de larvas selvagens de C. hominivorax, oriundas de uma miíase que ocorreu naturalmente em um ovino do Núcleo de Agroecologia do Centro de Ciências Agrárias da UFSC. A preparação deste bioterápico seguiu a metodologia da extração em lactose e água que a terceira edição da Farmacopeia Homeopática Brasileira (BRASIL, 2011) considera um método adequado para a preparação de bioterápicos a partir de tecidos vivos. Foi utilizado álcool 30% (v/v), como veículo para as diluições. Foram empregadas diluições seriadas, seguindo o método centesimal hahnemanniano, até alcançar a oitava e a décima segunda potências, com sucussões manuais. O efeito do bioterápico foi analisado com a metodologia proposta por Eddy e Graham (1950) para testes de atividade de larvicida in vitro com Calliphorideos, com pequenas adaptações. Um grupo de 15 larvas sadias de C. hominivorax em terceiro estágio foi submetido ao contato direto com 1mL do bioterápico e, a seguir, foi analisada a emergência dos insetos adultos. Foi utilizado um total de 750 larvas, divididas em dois grupos tratamento e três grupos controle. Os grupos tratamento foram Bioterápico 8cH e Bioterápico 12cH. Os grupos controle receberam água destilada, álcool etílico 30% (v/v), ou nenhuma substância. Os testes foram realizados sempre em quintuplicatas. As informações coletadas foram avaliadas estatisticamente, de acordo com o método paramétrico de análise de variância (ANOVA), seguido ao teste de comparação de Tukey, com desvio padrão e probabilidade mínima aceitável de 95% (p<0,05). As taxas de mortalidade dos grupos controle foram: 1,35% para o grupo que recebeu álcool 30% (v/v); 4,33% para o grupo que recebeu água destilada; e 2,9% para o grupo que não recebeu substancia alguma. Estas médias não foram distintas (p>0,05). Esses resultados demonstram a lisura das metodologias empregadas no desenvolvimento dos testes. O controle água e nenhuma substância atestam a sanidade das larvas utilizadas, enquanto que o controle álcool atesta a ausência de mortalidade das larvas pelo veículo utilizado na manipulação do bioterápico. Das larvas submetidas ao contato com o bioterápico de C. hominivorax 8cH, 61,33% não completaram o desenvolvimento, e não emergiram como insetos adultos após o período de pupagem das larvas controle. Para o bioterápico 12cH, o efeito de inibição no desenvolvimento observado foi de 66,66%. Estas médias não diferiram entre si, porém foram distintas da média dos controles. Os resultados encontrados mostram que, sob as condições dos testes realizados, o bioterápico apresentou considerável efeito inibidor no desenvolvimento das larvas da mosca C. hominivorax. Na literatura científica são relatados os efeitos in vitro dos medicamentos homeopáticos e bioterápicos sobre diversas células vivas (WAISSE, 2017). Esses efeitos já foram detectados em carrapatos (MORAIS et al., 2015), bactérias (PASSETTI et al., 2014, 2017), protozoários (SANTANA et al., 2017), culturas celulares (LIMA et al., 2013), células reprodutivas (SOTO et al., 2011), células do sistema imune (IVE; COUCHMAN; REDDY, 2012), e células tumorais em cultura (ARORA et al., 2013). Conclui-se que bioterápicos preparados a partir de larvas de C. hominivorax possuem efeito inibidor do desenvolvimento do díptero. A pesquisa com preparados homeopáticos in vitro é promissora e desafiadora.
##plugins.themes.bootstrap3.article.details##
1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional
2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusica da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios instituicionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre);