Efeito in vitro do medicamento sulphur sobre larvas de Cochliomyia hominivorax (Diptera: Calliphoridae)
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Resumo
O controle das populações da mosca Cochliomyia hominivorax representa um sério desafio para a criação animal no Brasil (MOYA BORJA, 2003). Anualmente, a invasão dos tecidos vivos dos animais zootécnicos pelas larvas deste díptero determina prejuízos da ordem de 34 bilhões de reais ao setor agropecuário, além de afetar ao bem-estar e a saúde dos animais (GRISI et al., 2014). O tratamento geralmente é realizado com a aplicação de produtos químicos sintéticos diretamente sobre as larvas. Esses produtos possuem ação inseticida inespecífica e, ao controlar as populações desta mosca, também afetam todos os outros artrópodes residentes no ambiente. O uso indiscriminado desses produtos, impulsionado, em grande parte, pela revolução verde, gerou a seleção de dípteros resistentes a estas moléculas e o desequilíbrio dos agroecossistemas naturais (OLIVEIRA; BRITO, 2005). Atualmente, é reconhecida a urgência em buscar por sistemas produtivos sustentáveis que ofereçam um modo mais ético para a produção de alimentos (FAO, 1992). Porém, o controle deste díptero ainda permanece como um gargalo neste panorama, pois não existem alternativas ao uso dos químicos sintéticos no controle das populações da mosca C. hominivorax, e no tratamento das miíases (DELEITO, 2008). A Instrução Normativa MAPA nº 46, de 6 de outubro de 2011, que regulamenta a produção orgânica, recomenda a utilização de medicamentos homeopáticos e bioterápicos em animais de produção para controle de doenças. O modelo de estudo in vitro comprova os efeitos das substâncias ultradiluídas e dinamizadas sobre células vivas, e é independente da maioria das complexidades inerentes aos testes clínicos in vivo, sendo, por esta razão, um avanço para o desenvolvimento da pesquisa com homeopatia (WAISSE, 2017). Assim, este trabalho avaliou o efeito in vitro do medicamento Sulphur 12cH sobre larvas sadias de terceiro estágio da mosca Cochliomyia hominivorax, oriundas de uma colônia estabelecida em laboratório. A colônia de C. hominivorax foi estabelecida no Laboratório de Parasitologia Animal do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural, localizado no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, e seguiu a metodologia proposta por Mastrangelo (2011). O medicamento Sulphur foi preparado a partir de uma matriz homeopática obtida em empresa comercial reconhecida. A manipulação do preparado ultradiluído e dinamizado Sulphur foi realizada pelo método centesimal hahnemanniano para substâncias insolúveis, seguindo a terceira edição da Farmacopeia Homeopática Brasileira (BRASIL, 2011). Foi utilizado álcool 30% (v/v), como veículo para as diluições, e foram empregadas diluições seriadas até a décima segunda potência hahnemanniana, com emprego de sucussões manuais. O Sulphur foi escolhido para o estudo devido à similitude entre sua patogenesia e o curso clínico das miíases por C. hominivorax. Para averiguar o efeito deste preparado sobre as larvas, foi utilizada a metodologia proposta por Eddy e Graham (1950) para testes de atividade larvicida in vitro com Calliphorideos, com algumas pequenas adaptações. O teste submeteu um grupo de 15 larvas sadias de C. hominivorax em terceiro estágio ao contato direto com 1mL do preparado e na observação do seu efeito sob a emergência dos insetos adultos. Foram utilizadas 600 larvas, divididas em grupos: um grupo tratamento e três grupos controle. O grupo tratamento entrou em contato com o Sulphur 12cH, e os grupos controle receberam água destilada, álcool etílico 30% (v/v), ou nenhuma substância. Os testes foram realizados sempre em quintuplicatas. As informações coletadas foram avaliadas estatisticamente com o método paramétrico de análise de variância (ANOVA), seguido do teste de comparação de Tukey, com desvio padrão e probabilidade mínima aceitável de 95% (p<0,05). As taxas de mortalidade dos grupos controle foram: 1,35% para o grupo que recebeu álcool 30% (v/v); 4,33% para o grupo que recebeu água destilada; e 2,9% para o grupo que não recebeu substância alguma. Estas médias não diferem estatisticamente entre si (p>0,05). Os resultados comprovam a integridade das metodologias empregadas no desenvolvimento dos ensaios. Os controles água e nenhuma substância atestam a sanidade das larvas utilizadas, enquanto o controle álcool atesta a ausência de influência sobre a mortalidade das larvas pelo veículo utilizado na manipulação do preparado. Das larvas submetidas ao contato com o Sulphur 12cH, 94,63% não completaram o desenvolvimento, e não emergiram como insetos adultos após o período de pupagem das larvas controle. Esta média é estatisticamente distinta da média observada nos controles. Os resultados obtidos indicaram, nas condições em que os testes foram realizados, que o medicamento Sulphur 12cH apresentou efeito inibidor no desenvolvimento das larvas de terceiro estágio da mosca C. hominivorax. O efeito in vitro de preparados homeopáticos sobre células vivas já é uma realidade cientificamente consolidada (WAISSE, 2017). Existem relatos dos efeitos in vitro de medicamentos homeopáticos e bioterápicos sobre bactérias (PASSETTI et al., 2014, 2017), protozoários (SANTANA et al., 2017), e culturas celulares (LIMA et al., 2016). Porém, ainda não existiam relatos do seu efeito sobre larvas de insetos. Conclui-se que o medicamento Sulphur apresentou efeito inibidor do desenvolvimento do díptero Cochliomyia hominivorax.
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