Relato de caso: acupuntura associada ao tratamento convencional em cães com diagnóstico de parvovirose

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S. P. Lima
J. E. S. L. Lobo Jr
M. Marani
A. M. Blotta
A. C. M. Favero

Abstract

A superfície da mucosa intestinal sofre ataques constantemente por ingestão de antígenos provindos de microrganismos, produtos da digestão após alimentação e fármacos. Por conta disso, o intestino possui a maioria do tecido linfoide do organismo. Isso faz com que este seja o maior órgão mediador da resposta imune humoral. (DOE, 1985 & BRANDTIZAEG et al 1988). A parvovirose canina é uma das causas principais de gastroenterite em filhotes (principalmente entre 6 semanas e 6 meses de idade) não vacinados, com esquema vacinal incompleto ou imunonologicamente não competentes. Se o animal tiver boa resposta imune ao vírus e receber tratamento de suporte adequado por 3 a 5 dias (7 dias em raças susceptíveis) a chance de sobrevida é alta(TOLLOT & DETHIOUX 2008; AIELLO, 2001) O gênero do parvovirus possui replicação autônoma e pode se diferenciar em parvovirus canino, sabe-se que o CPV-2b é o mais adaptado ao cão, se replica e dissemina de maneira mais eficiente entre os susceptíveis. (ALLENSHPACK & GASCHEN, 2008 Apud Parrish&O’Connell, 1985; HAGIWARA & RODRIGUES, 2008). A infecção ocorre por via oro-fecal, seu período de incubação varia de 3 a 8 dias. Ao infectar, se replica primeiramente no tecido linfóide da orofaringe e se espalha via corrente sanguínea para as células de rápida multiplicação do sistema gastrointestinal e tecido linfóide. (BURIKO & OTTO 2010). Diarreia fétida e sanguinolenta são características marcantes na parvovirose, podem estar presentes dentro de 2 dias pós manifestação dos sintomas iniciais - anorexia e êmese. Os sinais mais comuns são: apatia, desidratação, hipovolemia, febre ou hipotermia e dor abdominal. Alguns animais podem desenvolver insuficiência cardíaca quando o vírus atinge os cardiomiócitos (TOLLOT & DETHIOUX 2008; LEGENDRE 2004). Podem ocorrer três formas da doença: entérica, cardíaca e neurológica (AGUNGRIYONO et al, 1999). As complicações da doença são variadas, incluindo hipoproteinemia, anemia, hipoglicemia secundária a sepse, coagulação intravascular disseminada, SIRS, intussuscepção, hepatopatia, sintomatologia referente ao sistema nervoso central (pode ser por cinomose concomitante) e diversas infecções bacterianas como pneumonia, cistite, abcessos no local de aplicação, campilobacteriose e salmonelose. (SCHERDING 2008). Metade dos casos de infecção positiva desenvolvem leucopenia por linfopenia e granulocitopenia. A sorologia pode ser feita na própria clínica por meio de testes rápidos e eficazes como ELISA (SCHERDING 2008). Para o tratamento de distúrbios gastrointestinais é necessário que haja um protocolo de acordo com a sintomatologia e diagnóstico. Este pode ser: terapia de suporte (envolve correção dos distúrbios gastrointestinais e restrição de alimentação por 24 a 48h afim de promover restauração da mucosa em casos agudos), tratamento sintomático (para controle e correção dos sintomas, de acordo com a manifestação destes), tratamento específico (escolhido de acordo com o diagnóstico, como por exemplo, uso de antimicrobianos), tratamento dietético de acordo com o quadro apresentado, com objetivo de restabelecer a flora intestinal (ANDRADE & CAMARGO, 2008). Devido sua resistência o vírus pode permanecer no meio ambiente e fômites por um período de 5 a 7 meses e para eliminá-lo do solo infectado é preciso destruir a vegetação. Em ambientes internos, pode-se realizar lavagem e enxague criteriosos e aplicação de solução alvejante com cloreto após. (Legendre 2004 ; SCHERDING 2008) A imunoprofilaxia, dentre os métodos para controle de doenças infecciosas no homem e nos animais, é considerada a mais segura e eficiente. O sistema imune deve respondê-la através da produção de imunidade humoral e celular (HAGIWARA & RODRIGUES 2008). Filhotes sobreviventes a infecção por CPV-2 estão protegidos da reinfecção por no mínimo 20 meses ou por toda a vida. Vacinas inativadas protegem os animais submetidos a elas por pouco tempo e devem ser repetidas a cada 15 meses. Em contraste, vacinas com o vírus atenuado podem protegê-los por vários anos (ALLENSHPACK & GASCHEN, 2008, Apud Otto et al 1997). Muitos pesquisadores têm esperança de redescobrir uma terapia menos invasiva e efetiva. Isso os levou ao interesse pela medicina com ervas, quiropraxia, acupuntura, reiki e inúmeras outras terapias. Vários testemunhos demonstrando sucesso destes com relação a várias doenças aumentou o entusiasmo e crença das pessoas em relação a estes métodos. Mesmo a Medicina Ocidental antes incrédula tem aceitado e concordado com a eficiência de algumas terapias como complemento para fortalecer a clínica médica e pesquisas científicas (XIE & PREAST, 2007). Tanto a Medicina Convencional quanto a Alternativa possui seus pontos fortes e fracos. De maneira ideal, elas podem ser usadas em conjunto, complementando-se ou integrando-se, de modo que os pontos fortes de uma compensem os fracos da outra. Isto requer total compreensão de cada sistema e aplicação adequada destes (XIE & PREAST, 2007). Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) o diagnóstico é dado por meio de etapas de identificação: a etiologia, onde o foco são os agentes patogênicos de determinada doença, a síndrome que o paciente apresenta cujo foco é a diferenciação dos sinais e da sintomatologia e organizando-os em grupo conforme suas características. Dentro do diagnóstico pela síndrome temos subdivisões, entre elas: Canais e Colaterais, Alterações das Substâncias Fundamentais, Identificação das Síndromes ‘Zang Fu’ relacionada a órgãos e vísceras, Cinco Movimentos e Oito Princípios Diagnósticos ( LORENZI & NISHIJIMA 2011). Acupuntura (originada do latim: Acus = agulha e pungere=espetar) no Chinês “Shen Shui ou ZhenJiu” (espetar e queimar), utiliza métodos baseados em estímulos físicos como agulha e laser, químicos (injeção de substâncias), em áreas da pele definidas para fins terapêuticos e diagnóstico de patologias reversíveis e melhora de patologias graves. São considerados métodos de acupuntura: acupressão X I C O N PAV E T 78 mv&z c r m v s p . g o v. b r (massagem nos pontos designados), com agulhas, auriculoterapia, eletroacupuntura, laserterapia, moxabustão (direta ou indireta), implante de ouro, uso de infravermelho, aplicação de frio, sonopuntura, aquapuntura ou terapia com injeção (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN 1997 ; ALTMAN 2006). Distúrbios gastrointestinais podem ser diagnosticados com base nos Padrões dos Oito Princípios, das Substâncias Vitais, Fatores Patogênicos, Cinco Elementos e condições patológicas dos órgãos Zang-Fu (LIMEHOUSE & TAYLOR, 2007). De acordo com a MTC, o vômito está relacionado ao elemento Terra, os órgãos representativos são baço-pâncreas e estômago. Pode ocorrer por conta do Qi do fígado invadindo o estômago, por retenção de alimento no estômago, calor ou frio no estômago, defi ciência de Qi ou de Yin no estômago e o tratamento se baseia em estabilizar suas alterações e o organismo como um todo, baseado na teoria do Zang-Fu (WALDEMARIM, 2011). A diarréia, na MTC, está relacionada ao elemento Fogo. Meridianos: Coração, Intestino Delgado, Triplo Aquecedor, Pericárdio. Mas diversos padrões que envolvam Estômago, Baço, Fígado e Rim podem gerá-la de maneira aguda ou crônica. A aguda pode estar relacionada a Frio-Umidade, Umidade-Calor e Retenção de Alimentos. Já a crônica por Defi ciência do Qi do Baço, Defi ciência do Yang do Rim, Defi ciência do Qi do Rim, Estagnação do Qi do Fígado invadindo o Baço (WALDEMARIM, 2011). Infecções virais, na Medicina Chinesa são invasões de frio no organismo. Se tratando de parvovirose, esta invasão de frio atinge estômago e intestino (fezes de consistência amolecidas acompanhadas por muco) e se há infecção bacteriana ocorre aprofundamento da invasão por frio e transmutação por calor apresentado pela diarreia com sangue vivo e odor fétido (LOBO, 2011). Neste relato a intenção é demonstrar que a acupuntura complementa o tratamento convencional, minimizando os sintomas e tempo de internação.

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How to Cite
LIMA, S. P.; LOBO JR, J. E. S. L.; MARANI, M.; BLOTTA, A. M.; FAVERO, A. C. M. Relato de caso: acupuntura associada ao tratamento convencional em cães com diagnóstico de parvovirose. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 11, n. 2, p. 77-79, 11.
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